quinta-feira, 22 de setembro de 2011

De olho nas taxas


Exames periódicos ajudam a monitorar sua saúde e afastam o risco de doenças graves e complicações associadas a elas. Estamos falando do diabetes, da hipertensão, da anemia e de outros problemas comuns em nossa população. Fique esperto e mantenha o controle em suas mãos!
Por Rita Trevisan e Louise Vernier Ilustração Mariana Coan


Quase todo mundo tem na ponta da língua o seu RG e CPF completos, além de uma infinidade de outros números que nos identificam no dia a dia. Porém, pouca gente sabe dizer, com tanta precisão, quais são os níveis de colesterol, glicemia e pressão que apresentam com mais frequência. Isso porque, à exceção dos que já fazem algum tratamento médico, muitos negligenciam os cuidados com a saúde, adiando indefi- nidamente o check-up que monitora essas taxas. A boa notícia é que, ao se comprometer consigo mesmo, colocando-se como prioridade, você só sairá ganhando. "Quando as doenças são tratadas de forma preventiva, o prognóstico, ou seja, as chances de que o problema possa ser controlado, ou até mesmo evitado, são muito maiores do que quando o diagnóstico só é feito após o aparecimento dos sintomas. Doenças cardíacas, por exemplo, podem ser tratadas apenas com uma mudança de hábitos, a partir da introdução de uma dieta balanceada e de exercícios diários. E uma pista para a elevação de risco cardíaco pode ser obtida por meio de exames de sangue rotineiros, como a dosagem das taxas de lipídios no sangue, o colesterol e suas frações" afirma o patologista Helio Magarinos Torres, diretor Médico do Laboratório Richet e presidente regional da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica.
Para os testes feitos nesse check-up, os médicos trabalham com taxas-padrão, que indicam quando a condição de saúde está adequada e quando é necessário intervir. E o próprio paciente deve estar atento a esses níveis, estabelecidos em cima de resultados de estudos populacionais muito grandes e referendados por diversas organizações internacionais. Eles se modificam sempre que uma nova pesquisa é feita e avaliada por esses órgãos, num processo que, em geral, leva anos. "No caso do diabetes, por exemplo, temos estudos que nos mostram que quando a glicemia passa de 100mgdL, aumenta muito a probabilidade de apresentarmos lesão na raiz nervosa e o local mais fácil de notar isso é na retina. Conforme os estudos foram evoluindo, essas taxas sofreram modificações. Há uns 50 anos atrás, o limite da glicose, por exemplo, era até 140", explica o endocrinologista Saulo Cavalcanti, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.
O ideal é que a maioria dos exames de rotina seja feita pelo menos uma vez ao ano, mesmo em pessoas saudáveis. O cuidado é ainda mais importante a partir dos 35 anos. Aqui, reunimos algumas das taxas mais importantes a serem monitoradas. Saiba mais sobre elas e proteja-se!

CREATININA 
O que ele indica: sua concentração aumenta à medida que diminui a eficácia da filtração dos rins. Por isso mesmo, os níveis de creatinina são um forte indicador da atividade do órgão.
Número ideal: entre 0,6 e 1,3 mg/dL
Como medir: por meio de um exame de sangue específico, para a dosagem de creatinina.
Como atingir essa meta: os problemas de insuficiência renal estão relacionados a outras doenças e são consequência da falta de controle sobre os sintomas primários. Diabetes e hipertensão são exemplos de doenças que prejudicam os rins. Prevenir minimiza riscos. Beber água e adotar uma dieta balanceada, evitando a sobrecarga protéica, também são estratégias válidas.
Alerta vermelho: se a creatinina dobra, a função dos rins cai pela metade. O s membros inferiores incham, mas há risco de anemia, piora da hipertensão e males cardiovasculares, entre outros

PRESSÃO ARTERIAL
O que ele indica: a força com que o sangue - constantemente bombeado pelo coração - atinge a parede dos vasos, no processo de circulação no organismo.
Número ideal: os níveis de pressão máxima (sistólica) e mínima (diastólica) precisam estar abaixo de 140 e 90, respectivamente. Popularmente, reduzimos esses índices, tratando-os simplesmente como 14 por 9.
Como medir: com o auxílio de um aparelho medidor que, preso ao braço, é insuflado até obstruir a passagem de sangue no vaso, fazendo o pulso desaparecer completamente. Como o procedimento não é simples, é fundamental que seja feito por um profissional treinado, com um equipamento bem calibrado.
Como atingir essa meta: em 95% dos pacientes, a hipertensão é explicada pela predisposição genética associada a maus hábitos, como dieta inadequada, sendentarismo e stress. Para prevenir e tratar o problema, a mudança na alimentação é sempre o primeiro passo. A redução do sal é imprescindível mas também vale a pena reforçar a dieta com muitas verduras, legumes, frutas, carnes, leite e derivados magros.
Alerta vermelho: os índices abaixo da taxa-padrão não são preocupantes. Já a hipertensão atinge praticamente todos os órgãos, aumenta a prevalência de AVC em 40% e de infartos em pelo menos 25%. Além disso, é uma das principais causas de insuficiência renal.




GLICEMIA
O que ele indica: o nível de glicose, ou açúcar, no sangue.
Número ideal: abaixo de 100mg/dL
Como medir: um exame de sangue específico, para dosagem da glicemia, é capaz de indicar se você está dentro do padrão ou não.
Como atingir essa meta: embora o diabetes seja uma doença influenciada pela genética, manter o peso ideal e fazer atividades físicas são ajudam a prevenir e a controlar o mal. Tente se disciplinar para, caminhar 30 minutos por dia, 5 vezes por semana. Cuidado com doces e massas,: carboidratos são convertidos em açúcar.
Alerta vermelho: valores de glicemia acima dos 100mg/dL estão associadas ao diabetes, causa de cegueira, amputações e insuficiências renais. A doença ainda complica problemas coronarianos, e o risco de morte.




HEMOGLOBINA (glóbulos vermelhos)
O que ele indica: a concentração de hemoglobina no sangue, sendo o principal indicador de anemia.
Número ideal: de 12 a 16 g/dL
Como medir: o hemograma completo também faz a medição da hemoglobina.
Como atingir essa meta: a causa de cerca de 90% das anemias é a deficiência de ferro. E, para manter suas reservas nutricionais sempre em alta, vale incluir alimentos ricos nesse composto em sua alimentação diária. São eles: vísceras, carnes vermelhas, de aves ou de peixes, ostras, mariscos, gema de ovo, frutas secas, melaço, pães de trigo integrais e enriquecidos, vinhos, cereais e feijão. Cozinhar na panela de ferro, como faziam as nossas avós, também funciona, independentemente da receita.
Alerta vermelho: quem tem níveis baixos de hemoglobina se sente cansado, fraco, tem dores de cabeça, e, casos mais graves, apreentam queda no rendimento cognitivo e psicomotor. A deficiência nutricional pode agravar outros problemas, como as doenças coronarianas.

COLESTEROL
O que ele indica: a quantidade de gordura circulante. Quando avaliado em suas frações, permite um diagnóstico ainda mais preciso, relacionado de maneira preponderante ao risco cardiovascular. Nesse caso, são avaliados também os níveis de LDL, uma lipoproteína de baixa densidade com alto potencial para obstruir as artérias, e de HDL, lipoproteína de alta densidade, que atua justamente no sentido contrário, trazendo de volta para o fígado todo o colesterol que está sobrando nos tecidos e na circulação.
Número ideal: adultos saudáveis devem apresentar até 200mg/dL, LDL menor que 130, HDL igual ou superior a 40 para homens e igual ou superior a 50 para mulheres.
Como medir: exame específico, chamado de colesterol total e frações.
Como atingir essa meta: controle a alimentação, pegue leve nas gorduras. Fique longe do cigarro, pois o fumo fragiliza as paredes dos vasos, além de combater a HDL, que funciona como protetora das nossas artérias. Faça exercícios, jque propocia a dilatação natural dos vasos e, ajuda a diminuir o peso total e a gordura abdominal.
Alerta vermelho: colesterol aumentado, com LDL acima dos padrões e HDL abaixo. Nessas condições, aumentam muito os riscos de problemas cardiovasculares, culminando com enfartes e derrames e alto índice de mortalidade.




CONSULTAR SEU MÉDICO É FUNDAMENTAL
 
Embora todos esses exames sejam normalmente realizados como rotina, é o médico que o acompanha a melhor pessoa para orientá-lo sobre quais são os testes que vão dizer mais sobre o seu estado de saúde. Além disso, a experiência do médico é fundamental no momento de se avaliar os resultados. Isso porque mesmo as taxas consideradas padrão podem variar de acordo com o histórico de cada paciente e outras características individuais. Assim, mesmo uma pessoa que está dentro dos índices poderá ser considerada um paciente de risco, se ela tiver outras doenças associadas ou um aspecto genético muito forte que aumenta a sua predisposição ao problema a ser investigado. De qualquer forma, taxas elevadas são sempre um sinal de alerta.




CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL
 
O que ele indica: a gordura abdominal é um tipo de gordura visceral, que envolve os órgãos, como os intestinos, o pâncreas e o fígado. O problema é que esse tipo de gordura também produz substâncias pró-inflamatórias, que aumentam o risco de aterosclerose. Daí a ser usada como mais um dado na avaliação de risco cardíaco.
Número ideal: até 102 cm para homens e até 88 cm para mulheres.
Como medir: basta posicionar uma fita métrica em volta do abdômen, na altura do umbigo, mantendo a barriga relaxada e tendo o cuidado de verificar se em toda a sua extensão a fita está paralela ao plano do chão.
Como atingir essa meta: emagrecer é a única maneira eficiente de fazer sumir a barriguinha. Para se ter ideia, diminuindo 10% do peso corporal, quase 30% da gordura abdominal vai embora de carona.
Alerta vermelho: quem está acima da medida ideal deve passar pelo médico, para verificar a necessidade de realizar exames complementares ou mesmo de iniciar um tratamento. Afinal, quanto mais gordura acumulada no abdômen, maior o risco de doenças cardiovasculares e complicações fatais.




IMC (índice de Massa Corpórea)
 
O que ele indica: é uma medida mais exata para avaliar se o peso corporal está adequado, porque considera também a altura do indivíduo.
Número ideal: entre 18,5 e 24,9 kg/m²
Como medir: divida seu peso, em quilos, pela sua altura ao quadrado.
Como atingir essa meta: hábitos saudáveis, como uma alimentação balanceada e a prática regular de exercícios, ajudam a manter o peso ideal.
Alerta vermelho: o sobrepeso, quando o IMC fica acima de 25, já é preocupante. No entanto, é a entrada no nível de obesidade - IMC maior que 30 -, o que aumenta muito a suscetibilidade aos problemas de hipertensão, diabetes, doenças hepáticas, dos rins, complicações cardiológicas, artrites e até problemas de fertilidade. Na obesidade mórbida - IMC maior que 40 - os riscos de morte de súbita podem ser até 30% maiores do que em indivíduos com peso normal.

LEUCÓCITOS (glóbulos brancos)
O que ele indica: o exame permite a contagem dessas células em nosso sangue. Os leucócitos, por sua vez, são responsáveis por defender o organismo das ameaças externas. Em resumo, o que esse teste vai mostrar é a quantas anda o funcionamento do seu sistema imunológico e a presença ou não de infecções importantes.
Número ideal: 1600 até 7700 microL
Como medir: a contagem de leucócitos é parte do exame de hemograma completo.
Como atingir essa meta: a manutenção de hábitos de vida mais saudáveis ajuda a reforçar o sistema imunológico, garantindo proteção extra contra infecções.
Alerta vermelho: número aumentado de leucócitos indica leucocitose, ou uma resposta do organismo a um processo infeccioso em curso, como uma pneumonia ou um abcesso. Número inferior de leucócitos ao que é considerado padrão está associado à leucopenia. O quadro caracteriza uma baixa na imunidade e, portanto, maior susceptibilidade a infecções.




TRIGLICÉRIDES
 
O que ele indica: a quantidade de triglicérides no sangue. Para entender do que se trata, imagine que o triglicérides é como se fosse uma embalagem, capaz de agrupar três - daí o prefixo tri - ácidos graxos, a menor unidade de gordura existente. É um dos parâmetros usados, portanto, para a medição da quantidade de gordura circulante e para a avaliação de risco cardiovascular.
Número ideal: abaixo de 150mg/dL
Como medir: com um exame de sangue específico, que normalmente é avaliado em conjunto com o teste de colesterol.
Como atingir essa meta: os alimentos que podem mexer com esse índice são as gorduras. Para prevenir problemas e evitar complicações, restrinja seu consumo. Fique atento ao tipo de gordura que põe no prato. Prefira as polinsaturadas e monoinsaturadas (óleos vegetais, margarinas cremosas e em alguns tipos de peixes), e evite as saturadas, (ovos, carnes, leite e derivados, entre outros).
Alerta vermelho: o triglicérides é uma fonte de energia mas, quando nos excedemos nas comidas gordurosas, parte desses ácidos começa a se depositar no fígado, prejudicando seu funcionamento. O triglicérides também ataca a HDL e acelera o processo de inflamação dos vasos,. O organismo fica suscetível à aterosclerose e às complicações decorrentes dela, como enfartos e derrames.




TSH (hormônio tireoestimulante ultrassensível)
 
bse o funcionamento da glândula tireóide, que participa de diversas funções metabólicas importantes, está adequado. Ela pode estar trabalhando acima dos níveis adequados, o que indica hipertireoidismo, ou abaixo, o que caracteriza o hipotireoidismo.
Número ideal: de 0,5 a 4,5 microUI/ml
Como medir: um exame de sangue específico, para dosagem de TSH, é capaz de indicar se há alterações.
Como atingir essa meta: a maior parte dos casos de alteração do funcionamento da glândula está relacionada a aspectos genéticos. No entanto, alguns fatores ambientais, como o stress, podem ser a gota d' água para detonar a doença. Isso porque a tensão prolongada promove uma descarga de cortisol na corrente sanguínea, hormônio que, por sua vez, tem função imunossupressora, diminuindo a eficácia do nosso sistema de defesa frente às ameaças externas.
Alerta vermelho: qualquer alteração nessas taxas, acima ou abaixo dos padrões ideais, precisa ser investigada com exames complementares de sangue e uma ultrassonografia da glândula. A falta de controle, no caso do hipotireoidismo, pode predispor a problemas cardiovasculares sérios e a edemas pulmares, entre outros riscos, incluindo o de morte precoce. O hipertireoidismo também pode provocar alterações cardiovasculares, como a taquicardia, que precisam ser tratadas o quanto antes.

CONTEÚDO DA REVISTA MAIS SAÚDE, VIA UOL

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