JACKSON, EUA. Apesar dos protestos e da pressão internacional, o estado da Geórgia manteve a execução de Troy Davis, condenado por matar um policial em 1989. O preso de 42 anos foi executado com uma injeção letal nos primeiros minutos desta quinta-feira, depois da defesa perder o último recurso pela suspensão de seu pena capital. Do lado de fora da penitenciária onde Davis morreu, pessoas lamentaram o destino do homem que se tornou um símbolo da luta contra a pena de morte nos EUA. A Anistia Internacional e promotores estaduais criticaram a decisão da Justiça da Geórgia.
"O sistema judiciário americano foi abalado pela decisão da Geórgia de executar uma pessoa que poderia ser inocente. Matar um homem sob esta enorme nuvem de dúvida não apenas terrível, é também um exemplo de uma falha catastrófica da Justiça", disse a Anistia Internacional, em comunicado liberado nesta quinta-feira.
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Em seus minutos finais, enquanto era amarrado em uma cama para tomar a injeção letal, Davis levantou a cabeça em direção aos familiares de Mark MacPhail, o policial morto, e mais uma vez declarou sua inocência.
- Eu sou inocente. O que aconteceu naquela noite não foi minha culpa. Eu não tinha uma arma - suplicou ele - Tudo que eu peço é para vocês olharem melhor para este caso para que possam enfim ver a verdade.
Davis ainda pediu para os cerca de 25 amigos e familiares que o visitaram nesta quarta-feira para "continuar esta luta".
- Que Deus tenha piedade das almas de vocês. Que Deus abençoe suas almas - disse o homem aos carcereiros de Jackson, penitenciária onde foi executado.
Há 20 anos no corredor da morte, Davis se tornou não apenas um símbolo contra da luta contra a pena de morte, mas também um ícone da luta por tratamento legal mais justo para os negros. O apelo do americano acabou atraindo milhares de pessoas ao redor do mundo, incluindo o Papa Bento XVI, o ex-presidente dos EUA Jimmy Carter e o prêmio Nobel da Paz Desmond Tutu.
Davis foi condenado pela morte de um policial que trabalhava como segurança, quando foi atingindo no rosto e no coração por dois disparos depois de tentar impedir um grupo - ao qual Davis fazia parte - de bater em um mendigo. Mas desde sua condenação, em 1991, sete das nove testemunhas mudaram suas declarações e algumas disseram ter sido coagidas pela própria polícia. Uma delas, Quiana Glover, afirma que um homem cujo depoimento foi determinante para a condenação lhe confessou a autoria do crime. Tampouco há arma ou prova física que ligue Davis ao crime.
- Eu sou Troy Davis - gritava a multidão diante da penitenciária, em manifestação repetida em Paris.
Defesa tentou salvar Davis de trágico destino até o último minutoFoi um dia dramático, em que seus advogados tentaram todos os recursos. Um pedido para que se submetesse a um teste de polígrafo foi negado, a Comissão de Perdões e Condicional da Geórgia reiterou que não revisaria seu processo e a Corte Suprema do Condado de Butts rejeitou a contestação contra os testemunhos e as provas balísticas.
O caso é polêmico e chegou a ter a execução suspensa três vezes. O processo ganhou repercussão internacional, e ontem três especialistas em direitos humanos da ONU - Christof Heyns, Gabriela Knaul e Juan Mendez - pediram a intervenção do presidente Barack Obama. O presidente não poderia perdoar Davis, já que se trata de uma condenação estadual, mas um pedido seu de investigação federal adiaria a execução.
O Conselho da Europa e a Chancelaria da França também pediram ontem a suspensão da execução. "Ao executar um prisioneiro quando há sérias dúvidas sobre sua culpa, pode-se cometer um erro irreparável", dizia o comunicado do ministério francês.
Família do policial defende a sentençaPara a família do policial, no entanto, a pena é justa. Os filhos Madison, de 24 anos, e Mark, de 22, assistiriam à execução.
- Temos vivido isso por 22 anos. Nós somos as vítimas - afirmou aliviada a viúva, Joan MacPhail-Harris.
A mãe do de MacPhail disse estar em paz após a execução do suposto algoz de seu filho, mas reiterou apoio à família de Davis.
- Estou meio anestesiada. Não acredito que de fato aconteceu (Davis foi executado). Todos os sentimentos de alívio e paz que estou esperando todos esses anos vão finalmente chegar - disse Anneliese MacPhail por telefone ao Washington Post.
Antes do último suspiro, Davis divulgou uma carta em que dizia: "Esta luta é de todos os Troy Davis que vieram antes de mim e de todos os que virão depois. Estou bem, rezando e em paz. Mas não vou deixar de lutar até ter exalado meu último suspiro."
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/mundo/mat/2011/09/22/eua-executam-preso-apesar-de-duvidas-comunidade-internacional-condena-decisao-925416749.asp#ixzz1YgtHhXbB
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Publicada em 22/09/2011 às 10h22m
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